Perpétua - A feiticeira de Ilhabela
Retratos de Antonio José Lisboa de Souza e Maria Perpétua Calafate de Souza Acervo : Nair Mirtes de Souza |
A história colonial de Ilhabela começa quando os integrantes da primeira expedição exploradora enviada por Portugal à Terra de Santa Cruz chegaram a Maembipe em 20 de janeiro de 1502, dia consagrado, pela Igreja, a São Sebastião. Essa expedição – que rebatizou a ilha de Maembipe com o nome de São Sebastião – foi comandada por Gonçalo Coelho, era composta por três caravelas, e dela fez parte Américo Vespúcio, conhecido navegante italiano.
Por diversos motivos, essa região permaneceu completamente desabitada ao longo dos primeiros 100 anos após a passagem da expedição comandada por Gonçalo Coelho.
Somente em 1608 é que viriam a se estabelecer os primeiros colonos (sesmeiros) em ambas as margens do canal do Toque-Toque (hoje canal de São Sebastião). Foram eles Diogo de Unhate e João de Abreu, burocratas portugueses oriundos da Vila do Porto de Santos.
A principal atividade exercida pelos colonos era o plantio da cana e a produção de açúcar, utilizando exclusivamente mão-de-obra escrava, na época comercializada livremente. Plantavam-se em menor escala o fumo-da-terra, o anil, o arroz, o feijão e a mandioca, que substituía o trigo.
Com a chegada de mais colonos e escravos, formou-se um povoado onde hoje se localiza o centro histórico de São Sebastião. Em 16 de março de 1636, esse povoado emancipou-se da Vila de Santos, passando a denominar-se primeiramente Vila da Ilha de São Sebastião, depois Vila de São Sebastião da Terra Firme e, finalmente, Vila de São Sebastião.
Francisco de Escobar Ortiz, que tentara, sem sucesso, estabelecer-se em outra ilha, a da Vitória do Espírito Santo, construiu os dois primeiros engenhos de açúcar da Ilha de São Sebastião, mas sua principal atividade era o comércio de escravos, trazidos de Angola em um navio de sua propriedade.
A Ilha de São Sebastião foi integrada ao território da Vila de São Sebastião e assim permaneceria até o início do século XIX.
Villa Bella da Sereníssima Princesa Nossa Senhora – como também era chamada – foi oficialmente instalada com solenidades em 23 de janeiro de 1806. Nesse período, começava a tomar vigor em Villa Bella da Princesa um novo ciclo econômico: o do café; plantado, colhido, descaroçado, secado, torrado, ensacado e embarcado única e exclusivamente por mão-de-obra escrava.
Villa Bella da Sereníssima Princesa Nossa Senhora – como também era chamada – foi oficialmente instalada com solenidades em 23 de janeiro de 1806. Nesse período, começava a tomar vigor em Villa Bella da Princesa um novo ciclo econômico: o do café; plantado, colhido, descaroçado, secado, torrado, ensacado e embarcado única e exclusivamente por mão-de-obra escrava.
Nessa época , mas precisamente em 1810 , muda -se para o pequeno vilarejo uma portuguesa misteriosa chamada Maria Perpétua Calafate de Souza.
Perpétua, como era mais conhecida, era casada com o capitão Antônio José Lisboa de Souza um rico comerciante de escravos . A chegada de Perpétua a pacata Villa Bella chamou a atenção dos ilhéus e logo começaram a surgir boatos sobre a misteriosa mulher.
Durante sua permanência na ilha, Perpétua começou a se envolver com o ocultismo e passou a realizar adivinhações e vender filtros mágicos ( nome dado as poções mágicas daquela época).
Sua fama como feiticeira aumentava cada vez mais, e muitas eram as histórias sobre seus poderes. E isso atraiu forasteiros de todas as partes que iam até o pequeno povoado em busca de suas previsões.
incomodados com a situação, os habitantes da ilha, ameaçaram a enviar cartas a Portugal, pedindo a prisão e o degredo de Perpétua.
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Fragmento de uma das páginas do processo contra Perpétua sob a acusação de bruxaria -1814 |
Até que em 1812 ela foi formalmente denunciada como bruxa.
Entre os denunciantes, estava o capitão Domingos, o comerciante de escravos mais importante da região.
Segundo relatos da época, Perpétua teve um desentendimento com Joana, uma das escravas do capitão Domingos, e jurou vingar-se. Coincidentemente, alguns dias depois, Joana adoeceu e, em seguida, veio a falecer. O capitão Domingos, junto com outros moradores, deu queixa ao padre do vilarejo acusando Perpétua de ter feito um feitiço para matar a escrava. O caso foi levado ao conhecimento do governador da capitania de São Paulo e a casa dela foi investigada pelas autoridades. Além de uma orelha humana seca, foi encontrado um livro com dezenas de anotações de mandingas, simpatias e feitiços, dos mais esquisitos que se possam imaginar. Por essa razão, foi presa e levada para a cadeia de São Vicente. Mas, devido sua grande influência na região, ela foi liberada logo em seguida.
Tempos depois, Perpétua foi denunciada por envenenamento
e por vários outros casos envolvendo bruxaria.
Dizem as más línguas, que o motivo da briga entre o casal , foi devido a um caso amoroso que Perpétua tinha com o sócio do marido.
Curiosamente, cinco anos depois de sua morte, o processo contra ela foi reaberto a mando do capitão-mor de Villa Bella.
Carta escrita por Maria Perpétua em 1809 e arquivada na Torre do Tombo em Portugal |
Diário de magia datado de 1792 que pertenceu a Maria Perpétua e que foi usado contra ela como prova de bruxaria . |
Assento de óbito de Maria Perpétua 1817 |
Fontes: Mary Del Priore - História Hoje.
Arquivo público do Estado de São Paulo.
Arquivo público do Estado de São Paulo.
Professor Paulo Rezzutti - Mulheres Más do Brasil.
Imagens cedidas por Nair Mirtes de Souza
Coleção particular.
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