Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande
A “Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande”, também referida como “Fortaleza da Barra Grande”, “Fortaleza da Praia Grande” e “Fortaleza de São Miguel”, localiza-se na ilha de Santo Amaro, a sudeste, entre a praia do Góis e a praia de Santa Cruz dos Navegantes, batendo a Barra Grande, canal de acesso ao porto de Santos, no município do Guarujá, estado de São Paulo, no Brasil.
História
Os séculos XVI e XVII
A fortaleza foi erguida no contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), sob o reinado de Filipe II de Espanha (1554-1598) a partir de 1584, após o ataque do corsário inglês Edward Fenton a Santos (dezembro de 1583), rechaçado por uma força de três navios sob o comando de Andrés Higino, constituída por determinação do almirante espanhol D. Diego Flores de Valdés. A sua planta original é atribuída ao arquiteto militar italiano Bautista Antonelli (1547-1616), integrante da armada de Valdés (retida na baía de Guanabara quando em trânsito para o estreito de Magalhães, e que se demorou alguns meses no Rio de Janeiro em 1582), e foi artilhada com algumas peças de um galeão capturado a corsários na ocasião. SOUZA (1885) entende que essa fortificação era de fraca construção (op. cit., p. 116) não tendo oferecido resistência ao ataque do corsário inglês Thomas Cavendish (1590). Rechaçou a tentativa de reabastecimento do almirante neerlandês Joris van Spielbergen (3 de fevereiro de 1615), e posteriormente a tentativa de assalto do corsário francês Jean-François Duclerc (agosto de 1710), que se dirigiu em seguida ao Rio de Janeiro.
O século XVIII
Passou a comandar a praça em 1702, o capitão Luiz da Costa de Siqueira (Carta Patente de 23 de julho de 1702), e sua guarnição compunha-se de um alcaide e de cem soldados. A Carta-régia de 11 de setembro de 1709 mandou aumentá-la, e que do Rio de Janeiro se remetesse artilharia de grosso calibre para sua defesa. Manuel de Castro de Oliveira, um particular residente em Santos, propôs em 1711 à Coroa Portuguesa reconstruir e armar a fortaleza às suas custas, em troca de algumas mercês. A Coroa, pela Carta-régia de 26 de janeiro de 1715, aceitou o oferecimento daquele particular residente em Santos "para reconstruí-la e armá-la, mediante a mercê do foro de fidalgo, o Hábito [da Ordem] de Cristo, tença anual de 80$000 e um ofício nas Minas [Gerais], que tivesse de rendimento 400$000, para seu filho".(GARRIDO, 1940:133) São deste período o projeto assinado por Manuel Pinto de Vilalobos (Fortaleza que se há de fazer na praia grande de Santos, 1712. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) e outros (Planta da Fortaleza desenhada de novo na barra grande de Santos, c. 1712; Planta da Fortaleza projetada na barra da vila de Santos, c. 1712. AHU, Lisboa). (IRIA, 1966:72-73) Essas obras foram iniciadas sob a orientação do engenheiro francês brigadeiro Jean Massé (Planta de uma Fortaleza desenhada de novo na vila de Santos, c. 1714. AHU, Lisboa), (IRIA, 1966:73) com o auxílio do sargento-mor Antônio Francisco Lustosa.
Em 1717 o então governador de Santos designou Luiz Antônio de Sá Queiroga para adicionar à fortaleza parapeitos, reduto, cortina, casa de pólvora e outras obras, orçadas à época em 4.000 cruzados. Durante o governo do Vice-rei e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, D. Vasco Fernandes César de Meneses (1720-1735), foi concluída a muralha (1721), sendo a praça finalmente artilhada com trinta e duas peças (1723-1725). Novas reformas foram efetuadas em 1731-1732. Por volta de 1739 aqui esteve o Brigadeiro José da Silva Pais, com a missão de examinar esta e outras defesas no litoral santista. Este oficial foi o responsável pelo projeto da nova Casa da Pólvora e de uma capela, erguida no local da antiga Casa da Pólvora e inaugurada em 1742. ("Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande". In: Patrimônio: 70 anos em São Paulo).
Uma nova campanha de obras teve lugar em 1765, sendo governador da capitania de São Paulo o capitão-general D. Luís António de Souza Botelho Mourão - 4.º morgado de Mateus (1765-1775), que mandou repará-la e ampliá-la devido ao seu estado precário. Cruzando fogos com o Forte da Estacada, para complemento deste sistema defensivo, mandou ainda edificar a Bateria da praia do Góis (1766), para servir como posto avançado à fortaleza. Data deste período ainda o chamado "Portão Espanhol" que a liga àquela fortificação. Em Relatório à Coroa, acerca das fortificações da Capitania, datado de 30 de junho de 1770, este governador informou que esta praça estava artilhada com vinte e oito peças: três de 24, oito de 18, três de 12, três de 8, e onze de 6.(GARRIDO, 1940:133)
Um relatório manuscrito descreve o estado da fortificação, entre o final do século XVIII e o início do século XIX:
"Na Barra Grande achei as portas podres e despedaçadas, o Quartel arruinado e parte dele a cair, a Casa da Pólvora por acabar; na bateria de baixo achei algumas peças montadas em carretas podres e outras no chão, muito maltratadas, de sorte que toda esta bateria está impossibilitada de fazer fogo, sendo a melhor que tem esta fortaleza por serem os seus tiros quase horizontais, e pela curta distância a que chegam os navios pode esta bateria servir de balas ardentes, de balas fixas, de balas encadeadas de plaqueta, além de ter velas e cartuchos de pinha, e até pelo ângulo que forma o canal, por onde necessariamente passam os navios, oferecem ao inimigo nove bocas-de-fogo reto e duas em cada flanco, que sendo bem providos, podem fazer grande dano.
Na bateria superior achei catorze peças montadas em carretas novas, cuja bateria é inferior nas suas vantagens à de baixo por serem os seus tiros mergulhantes e só podem ser bons em maior distância, ficando incertos pela falta de bons artilheiros. Pelo prolongamento da cortina, até à porta, que dá saída para o forte da praia do Goes, se acham três peças montadas em carretas novas e nove desmontadas, algumas destas muito maltratadas, de sorte que não poderão fazer fogo por se acharem cheias de escaravelhos e uma encravada.
Na bateria baixa há um telheiro encostado à muralha superior, o qual se pode acrescentar unindo a este a casa de um índio que serve à fortaleza; em cujo telheiro se pode ter recolhida a maior parte da artilharia, com seus reparos, para se livrar dos grande sóis e imensas chuvas que há de ordinário neste país, e porque a plataforma está móvel com o terrapleno da praça e com facilidade vem esta artilharia ao seu lugar na bateria em todo e qualquer lugar.
Na mesma circunstância se pode por a bateria superior, poupando Sua Majestade por este modo a imensa despesa que continuamente está fazendo com o carretame, devendo ser este pintado a óleo de linhaça [ou] na falta deste com azeite de mamona, e uma terra que há em Cananeia que é semelhante ao roxo-terra da Itália (...)."("Sobre as fortificações da costa marítima da Capitania de São Paulo", manuscrito sem autor, sem data (c. 1797). in Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo. Vol. XLIV, pp. 303-308)
Do século XIX aos nossos dias
Ao longo da sua história, as instalações da fortaleza foram utilizadas como presídio político. O Mapa das Fortificações de 1847 aponta-lhe apenas vinte e duas peças. (SOUZA, 1885:116) Novamente reparada em 1885, durante a Revolta da Armada (1893-1894) as suas baterias trocaram tiros com o Cruzador República e o Cruzador Palas, a caminho do sul (20 de setembro de 1893), tendo sofridos danos nas muralhas. Passou para a jurisdição do Ministério da Marinha (Aviso do Ministério da Guerra de 28 de agosto de 1889). Em 1894 teve lugar a última obra nesta fortificação: a reforma inacabada do quartel (MORI, 2003:155).
No século XX foi desarmada e o seu material entregue ao 3.º Batalhão de Artilharia, a fim de aquartelar um Destacamento do 24.º Batalhão de Infantaria que iria trabalhar nas obras do Forte de Itaipu (Aviso n.º 484, de 17 de março de 1905), (BARRETTO, 1958:263) dentro do projeto de reforma da defesa do Porto de Santos. À medida que as obras do Forte de Itaipu evoluíram, perdeu importância estratégica, até ser finalmente desativada (1911). Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, aquartelou a 3.ª Companhia do Batalhão de Engenharia de Santos, servindo como Posto Angular (Posto de Paralaxes): recebeu aparelhos telefônicos e alto-falantes, a fim de manter comunicação constante entre a defesa minada da barra de Santos e os oficiais engenheiros de plantão que as comandavam. Em uma das guaritas da fortaleza, assim como em pontos estratégicos do canal, foram instaladas baterias acumuladoras para a detonação das minas. Ao final da década de 1940 abrigou instalações da extinta Polícia Marítima e Aérea, e a partir de 1956 passou a ser utilizada como sede náutica do Círculo Militar de Santos.
De propriedade da União, o Forte da Barra Grande encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pelo processo n.º 0441-T-50, no Livro Histórico, sob a inscrição n.º 365, em 23 de abril de 1964.
A inscrição do Fortim da Praia do Góis, do Portão Espanhol e da área que envolve todos os monumentos, foi feita por extensão do tombamento do Forte da Barra Grande, em 26 de fevereiro de 1979.
Fonte: Texto e imagens: Fotalezas.org
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